A passagem da criança da educação infantil para o ensino fundamental trata-se de uma consequência do mundo letrado na sociedade.
As crianças ingressam no universo escolar cheias de expectativas. Elas interagem com o novo, com o inesperado, e experimentam as vivências mais variadas possíveis dentro do próprio grupo, com os adultos, os espaços e os objetos que constituem esses espaços. Elas trocam conhecimentos sobre os acontecimentos que as rodeiam e as percepções acerca dos fatos de seu cotidiano. Criam e recriam situações, trocam risos e afetos, curiosidades e medos, dúvidas e incertezas do desconhecido.
Quando você pergunta a uma criança o porquê dela estar “avançando”, ela provavelmente vai dizer que é porque está crescendo ou porque já está grande, o que não está errado, mas veja como a escola para ela vai além de um lugar onde você aprende a ler e a escrever. A sensação para elas é como se estivesse adentrando em um universo novo, um lugar também dos adultos e não só das crianças.
E por que digo isso? Porque você logo vê a diferença dos ambientes. Na educação infantil você vê uma pequena turma com uma ou duas professoras, salas cheias de brinquedos e desenhos nas paredes, pisos e materiais coloridos. Ao transicionar para o fundamental, essas crianças passam a ter contato com salas mais padronizadas, com crianças maiores, com mais professores, com uma divisão mais clara de disciplinas. No entanto, isso não é algo que desmotive as crianças, pelo contrário, elas ficam mais animadas por estarem aprendendo “coisas de criança mais velha”.
Percebemos não só uma mudança no modo de falar, como também na postura. Literalmente! Seguram um caderno e escrevem nele, de modo que pareciam estar ocupadas com algo “muito sério”. Elas ficavam compenetradas nessa atividade, de forma que, mesmo estando no parque, sua atenção concentrava-se no caderno.
Por mais que o contexto escolar torne as crianças disciplinadas e as transforme em alunos, estar nesse espaço, para elas, é prazeroso. Elas gostam muito de ir à escola, de fazer parte do primeiro ano, de aprender conteúdos apropriados para essa faixa etária. Por mais contraditório que pareça, é dessa forma que as crianças encaram estar no ensino fundamental, com gosto pelo novo, pelas novas experiências, pelos saberes oportunizados àqueles que frequentam essa etapa.
Ao avançarem ainda mais, surge o seguinte questionamento: até quando a criança viverá esse caso de amor com o saber? Deixo a pergunta com a promessa de desenvolvê-la melhor mais tarde.