A Psicologia Escolar é uma área da Psicologia Aplicada existente desde 1940, mas que começou a se fazer presente nas escolas a partir de 1960. Um dos primeiros estudiosos desta área foi Stanley Hall, psicólogo e educador norte-americano, cujos estudos tinham enfoque na infância e sua relação com desenvolvimento de crianças na educação. No que concerne ao início da prática da Psicologia Educacional, esta foi uma das primeiras áreas no Brasil a esboçar uma crítica à formação profissional e ao modelo de atuação psicológica na educação.
É imprescindível pontuar a escola como um local extremamente importante para o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, sendo onde ocorrem diversas trocas sociais, cognitivas e afetivas. No entanto, tendo em vista sua relevância, a psicologia escolar ainda assim é considerada uma área secundária da Psicologia e por conta de sua desvalorização, considerada até mesmo dispensável. É uma área que vem crescendo ao longo das décadas, com estudos e trabalhos relacionados aos processos afetivos, mas que, apesar disso, as contribuições de cunho prático advindas da Psicologia continuam escassas.
Esta área, inicialmente, estava diretamente ligada à psicometria com aplicação de testes psicológicos, tendo como objetivo principal a busca pela “cura” dos problemas de aprendizagem dos estudantes. Para que isso fosse possível, foram desenvolvidas diversas atividades, estando em destaque a avaliação da prontidão, organização de classes e diagnósticos e encaminhamentos de crianças com “distúrbios de aprendizagem”. Ao longo do tempo foi sofrendo modificações, tornando- se uma especialidade com definições em seu Manual de Psicologia Escolar Educacional (CASSINS et al., 2007).
Em conformidade com o manual, o psicólogo escolar atuaria no desenvolvimento, apoio e promoção de instrumentos adequados para o desenvolvimento acadêmico de cada sujeito. Sua inserção foi feita pela aprendizagem, caráter que consideremos clínico. De acordo com Andrada (2005), o psicólogo atuava com base num modelo clínico dentro da escola, “diagnosticando e encaminhando alunos com desvios de comportamento, problemas no foco de atenção e concentração, disciplina, deficiência mental e intelectual, problemas de desestruturação familiar, dentre outras causas que justificavam o fracasso escolar”, que seria até então o tema central do trabalho desse profissional. No entanto, a psicologia escolar não se trata da clínica dentro do ambiente escolar, seus problemas não são equacionados por saúde x doença e interpretados como sintomas determinados por fatores implícitos no aluno.
Observamos que, no contexto escolar, os recursos pedagógicos buscam investigar e resolver as questões a respeito das “crianças-problema” que sinalizam desvios relacionados ao comportamento e a aprendizagem a fim de torná-los “bem ajustados”, ao invés de abranger o contexto didático e as relações sociais dentro da escola. Não trataria-se, portanto, de desconsiderar os processos individuais dos alunos, uma vez que há casos de dificuldades que de fato não dizem respeito à instituição, e estes sim são necessitados de um enfoque mais clínico.
Por outro lado, no entanto, deve-se desapegar do caráter clínico e da concepção do aluno como única fonte de dificuldades, como responsável pelo “não andamento harmônico” que a escola enfrenta, e, na realidade, conceder uma visão mais ampla de sua crise geral, considerando todos os seus aspectos. Afinal, mesmo o aluno buscando ajuda clínica, inserido no ambiente escolar, este continua sendo configurado como “problema” e responsabilidade da instituição. Por estas razões, é interessante pensar no trabalho do psicólogo escolar destacando sua interdependência, atribuindo-lhe à uma atuação educacional integrada, afastando-se de um modelo paradigmático de “doença” e queixas quanto ao fracasso escolar, e aproximando-se da ideia de promoção de saúde mental e bem estar destes que estão em desenvolvimento.
Ademais, a imagem atribuída ao psicólogo como alguém que tem as respostas e traz soluções para qualquer que seja o problema emergido atribui ao profissional uma concepção incorreta de caráter onipotente e poderoso. Esta imagem, no entanto, consequentemente faz com que a escola desenvolva uma resistência para com seu trabalho, assim como para a família e a sociedade. Não se trata de um trabalho de intervenção psicológica, mas sim da problematização, discussão e conscientização do que ocorre e no que se refere à psicologia nesse ambiente.
Nesse sentido, quando Meira (& Tanamachi, 2003) pontuam que o melhor lugar para o psicólogo escolar é o lugar possível, elas demonstram que a partir do momento em que coloca-se dentro da educação, em qualquer que seja o espaço profissional que ocupe, seu trabalho é apropriar-se dos elementos psicológicos que emergem e compõem a escola e, assim, buscar recursos explicativos e metodológicos, articulando com o que é possível para que possam orientar sua ação.
O psicólogo escolar, portanto, analisa e compreende os elementos existentes, mas ele próprio não decide, não resolve e nem executa (Bleger 1990). O profissional deve atuar como coadjuvante, deixando a solução e a execução das questões para a responsabilidade dos organismos próprios da instituição. Seu papel – como agente de mudanças – é instruir a reflexão por parte dos outros membros da equipe escolar, para que eles mesmos discutam as questões de forma a se conscientizar sobre seus papéis, estando o próprio psicólogo incluído neste processo de questionamento.
Podemos dizer, então, que sua atuação é conjunta ao corpo docente e discente, assim como à direção e equipe técnica, conscientizando-se da realidade em que se encontram: seu meio social, o tipo de indivíduos com quem e para quem trabalham, os grupos que compõem a instituição – considerando a hierarquização e suas relações de poder-, e baseando-se também na filosofia específica que a rege. Nesse sentido, reflete-se sobre a organização como um todo, encaminhando uma reflexão crítica a respeito de seus objetivos, suas expectativas sobre o alunato, sobre o processo de ensino-aprendizagem e o tipo de relação aluno-professor existente, de forma a proporcionar, além disso, um espaço que proporcione acolhimento tanto para os alunos, mas como também aos familiares e equipe pedagógica.
Para além disso, é interessante pontuar o papel do professor na escola, este que consiste em também mediar e facilitar o processo de aprendizagem dos alunos. Torna-se necessário, portanto, a demanda de um trabalho de integração entre os profissionais da educação. Neste trabalho, baseando-se no conceito de afetividade, busca-se essa maior aproximação do corpo docente e da coordenação pedagógica, que consiste em projetos de formação para professores, observações eventuais em sala de aula e reflexões sobre a didática utilizada por ele.
É importante frisar que, embora a atuação psicológica escolar tenha sido remodelada, há ainda algumas questões problemáticas em função, tanto do sistema educacional brasileiro precário, quanto pela formação oferecida aos futuros profissionais de Psicologia. A formação geralmente é escassa e não contempla as especificidades do processo educacional e do contexto educacional (Guzzo, 2001; Guzzo e cols, 2010).
Seguindo essa linha, ressaltamos que a Psicologia escolar ainda é encarada como uma área de intersecção entre a Psicologia clínica e a Psicologia organizacional, visto que ela lida com instituições sociais complexas e hierarquizadas. O psicólogo, então, busca defender os direitos dos indivíduos no atendimento de suas necessidades educacionais, promovendo seu desenvolvimento, mas sem discriminação ou intolerância de qualquer tipo ou grau, tendo o cuidado de não reproduzir formas de dominação. Por essa razão, é tão necessário que o psicólogo esteja inserido no contexto, no qual esses processos ocorrem.
O profissional deve conscientizar-se de que há muito trabalho pela frente e muitas formas de realizar esses trabalhos. Nessa caminhada, ele pode apresentar diferentes sentimentos, especialmente diante da urgência e emergência de diferentes demandas presentes no contexto escolar, posto que deverá estar preparado para realizar o que ainda não está pronto e necessita ser construído (Almeida e cols, 1995), mas precisa estar atento tanto às necessidades da população que atende como às suas potencialidades na realização de um trabalho conjunto.
Além disso, o psicólogo deve ser aquele que vai interagir com os outros indivíduos presentes no ambiente escolar para que construam uma solução viável dentro do contexto da educação. Nesse processo, é fundamental que o psicólogo construa uma postura crítica e criativa, estando aberto aos desafios provenientes do contexto escolar. Para que isso ocorra, é altamente indispensável que haja um maior investimento na formação desses profissionais, desde a graduação, tornando os estágios, também nesse caso, de grande importância.
O mapeamento institucional é uma das técnicas de trabalho, a qual permite uma observação do funcionamento, cultura, história e dinâmica da organização. Outras técnicas seriam também ampliar as possibilidades curriculares, estratégias de ensino-aprendizagem, com o objetivo de potencializar o desenvolvimento de alunos no meio institucional. Dessa forma que age a prática dos psicólogos, objetivando beneficiar uma atuação mais cautelosa, a qual possa ser entendida e estável na escola, diminuindo, desse modo, intuitos e solicitações limitadas à dimensão do problema e da doença.
De acordo com Reger (1989), há um exemplo mais apropriado para o profissional que deseja atuar na área escolar, qual seja, assumir uma função de educador. Dessa forma, sua meta seria o de auxiliar a ampliar a virtude e a eficiência do processo educacional através da aplicação dos conhecimentos psicológicos. Afinal, o psicólogo se encontra nas escolas para auxiliar a planejar atividades educacionais para as crianças e adolescentes.
Compreende-se, portanto, em vista às considerações anteriores, a atuação do psicólogo (e eventualmente de produção científica) como caracterizada pela utilização da psicologia no contexto escolar, buscando otimizar o processo educativo, entendido como complexo processo de transmissão cultural e de espaço de desenvolvimento da subjetividade (Mitjáns Martínez, 2003b, p.107).