Freud tinha uma relação com a psicologia escolar, alegando que o conhecimento era transmitido através do inconsciente, fazendo com que o que aprendemos também “fuja” do controle de nosso consciente. Outro ponto em foco neste tema é a relação aluno-professor.
Freud dá muita importância a essa troca em seu texto “Algumas reflexões sobre a psicologia escolar” (Freud, 1914), o que pode nos dizer que a relação de transferência está além da relação do terapeuta com seu paciente, envolvendo também outras trocas sociais. O texto alega que para adquirir o conhecimento o aluno depende tanto da relação com os professores, quanto da com seus colegas em uma relação transferencial realizada, sendo estes representantes de seus pais e irmãos.
Um terceiro e último ponto destacado por Freud é o papel da educação como auxiliar da sublimação sexual, visto que, para Freud, a curiosidade intelectual deriva da curiosidade sexual. Sobre esta, é importante enfatizar que o desvio pulsional necessário não deve ultrapassar os limites a ponto de inibir o sujeito do desejo.
Outro nome importante nesta conexão entre educação com a psicanálise é Millot, sendo considerado uma referência obrigatória neste campo. Apesar de importante, em seu livro a autora negava que a psicanálise seria favorável à educação, acreditando que o máximo que poderia ser feito seria transmitir ao educador ética e um modo de ver e entender a prática educativa.
Lacan dizia em seus ensinamentos que Millot radicalizava as separações entre os campos, indo contra a tradição psicanalítica que compreendia a psicanálise como a educação das pulsões. Anna Freud, por sua vez, aparecia como representante desta crença, na qual união de educadores e psicanalistas a favor do conhecimento, analisando a criança associando a medidas educativas, alcançando a pedagogia (Freud, 1971). Tal posição era muito criticada por Milliot.
A autora brasileira Kupfer era seguidora de Millot por volta de 1989, acreditando que a psicanálise e a educação não eram compatíveis. Porém, mais de 10 anos depois ela confessou mudar de ideia, acreditando ser possível que estas duas trabalhem juntas. Assim, ela propõe a “educação terapêutica” que é: “conjunto de práticas interdisciplinares de tratamento, com especial ênfase nas práticas educacionais, que visa à retomada do desenvolvimento global da criança”. Acrescenta também que esta educação terapêutica deve ser para todos.
Bacha, em seu livro publicado no ano de 2002, foge da visão lacaniana e passa a enxergar a educação da visão exclusiva da criança, que são os fantasmas inconscientes que a situação formativa acorda no professor. Para ela, o trabalho em conjunto da psicanálise e da educação devem focar neste tópico. O professor deve se ver no lugar da criança para que assim ele seja capaz de “inquietar a razão e desfazer os hábitos do conhecimento objetivo”, dessa forma ele seria capaz de transmitir o conhecimento para seus alunos.
Em suma, é preciso reconhecer o inconsciente no território da razão, admitindo a “surrealidade da educação” que aponta ao “fantasma da sedução”. Recorrendo ao trabalho de Renato Mezan, que agrupou os aspectos da sedução em duas faces: ética e estética, colocou o professor no lugar de um sedutor no sentido estético. Ela afirma que “educar é nutrir, e nutrir com Eros”.
Por fim, temos Castoriadis, que acreditava que a finalidade da educação era a construção da auto-criação de cada um. Porém, sempre há algo que foge dos três campos do saber pelo fato de que o humano pode construir a si mesmo. Mesmo assim há uma sugestão de intervenção externa na auto-criação. Assim, esquecendo da liberdade humana, a educação age junto dos dois saberes, ficando reduzida a teorias de especialistas.
A autonomia deve ser um projeto social, não devendo permanecer em âmbito individual. Uma sociedade que não permite que os sujeitos sejam autônomos é uma sociedade não democrática, pois encobre o sujeito da auto-criação.